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Um Ano de Guerra

Karina Almeida, com a colaboração de Marcella Lourenzetto e Rodrigo Borges. A edição e supervisão de Juliana Prado e Lucas Soares. Sonorização de Cláudio Antônio. 

 

01 OFF: Você lembra o que você estava fazendo no dia 24 de fevereiro de 2022?

 

02 OFF: Na Ucrânia, esse dia sempre vai ficar marcado por esse som e por várias lembranças:

 

03 SOBE SOM BOMBA (BG) 

 

04 SONORA OLHA_01 EDT TRAD 

“No dia 24 de Fevereiro eu ouvi as primeiras explosões o primeiros tiros às 5:00 da manhã e foi Justamente eu estava acordando estava me arrumando para ir para o trabalho a passei maquiagem fiz maquiagem eu estava me arrumando, mas recebi a mensagem do diretor que hoje ninguém vai para o trabalho hoje estava cancelado a ainda não tinha anunciado oficialmente que a Guerra começou foi muito de repente."

05 SOBE SOM BOMBA

06 SONORA NATALIYA 1 

“No dia 24 de fevereiro eu acordei perto de Kiev, em Stoyanka, que é três, quatro, cinco quilômetros de Bucha e Irpin. E na verdade. Eu nunca pensei que a guerra “vai acontecer”. Eu nunca acreditei,até esse dia.” 

 

07 OFF: Foi durante a madrugada que os os ucranianos foram surpreendidos com as primeiras bombas e o mundo começou a receber as primeiras notícias do início de uma nova guerra:

 

08 SOBE SOM JCBN - DEIXAR BG  

"A Rússia começou a atacar a Ucrânia nesta madrugada. A operação foi autorizada pelo presidente Vladimir Putin pouco antes da meia noite no Brasil. O líder russo disse que a operação seria realizada apenas na região separatista, mas a Ucrânia denunciou que a guerra é total e já há registro de bombardeios até na capital, Kiev. O ataque foi condenado pela ONU e o presidente americano promete novas sanções econômicas hoje. O repórter Vinícius Bernardes acompanhou a situação durante toda a madrugada e tem mais informações, ao VIVO: 06H04 - REPORTAGEM (AO VIVO) - VINICIUS BERNARDES -  Putin inicia ataque à Ucrânia, que amanhece sob bombardeios em várias cidades… "

 

09 OFF: Naquele dia, a capital da Ucrânia Kiev e a segunda maior cidade do país, Kharkiv, foram atacadas com mísseis e bombas. 

 

10_OFF: A ucraniana Olha Syvash estava em Kharkiv, cidade próxima a fronteira com a Rússia. Ela lembra exatamente onde estava e o que estava fazendo no dia porque foi acordada pelo som dos bombardeios.

 

11_OFF: Com o passar dos dias, as explosões começaram a ficar cada vez mais intensas, sinalizando o avanço das tropas russas. Foi quando Olha decidiu buscar um abrigo subterrâneo na cidade.  

 

12_SONORA OLHA 02 METRO EDT TRAD 

"Quando nós já entendemos que era a guerra mesmo que não foi uma impressão, que alguma coisa estourou e explodiu foi quando a guerra era oficial. Então nós começamos a escrever uma pessoa para outra perguntando como está e falando para não entrar em pânico, aconselhando uma outra para arrumar logo uma mala com as coisas mais necessárias para poder, se precisar, se mudar para algum esconderijo. Eu morava em Hyde, que foi uma cidade grande e que tem o metrô. O metrô é subterrâneo e ele já é projetado para ser esconderijo também de bombardeios.

 

13_OFF: Anastasiia Syvash é filha de Olha e complementa o relato da mãe sobre as táticas de sobrevivência: 

 

14_SONORA ANASTASIIA 1 - SOBRE METRO edt trad 

Tem vários jeitos de se esconder das Bombas, que pode ser o porão do prédio ou pode ser uma estação de metrô. Mas também tem também a regra das duas paredes que hoje todo o ucraniano sabe dessa regra. É que você tem que encontrar um cômodo no seu apartamento e você tenha duas paredes separando você da janela de fora de casa, porque fica mais seguro se alguma coisa cair no apartamento e estourar o vidro. Isso prova que duas paredes te separando disso, você tem mais chances de sobreviver. Mas Olha morava no sexto andar e era muito perigoso mesmo assim porque é bastante alto, por isso eu estava estava convencendo minha mãe para ir até a estação de metrô e ela foi para a estação que já tinha os amigos dela. Ela precisou andar bastante porque não era a estação mais próxima e o metrô era longe. Ela foi andando e falou que lá tinha muitas muitas pessoas, que estava muito cheio, tinha muitas crianças, tinha também animais de estimação, tinha vários cachorros se escondendo, então era um lugar, aparentemente o lugar mais seguro e que todo mundo foi para lá, mas era muito desconfortável porque tinha muitas pessoas.

 

15 OFF: Mas a guerra não começou do nada. Pelo menos a diplomacia já dava sinais, meses antes, de que as relações entre a Rússia e a Ucrânia iam de mal a pior. Vou te explicar melhor: 

 

16 SOBE SOM

 

17 OFF: Tudo isso é fruto de conflitos antigos, que vêm lá desde 2014, quando a Rússia resolveu, do dia para a noite, anexar um território da Ucrânia, a Crimeia. Na época, não houve nenhum confronto, foi uma invasão silenciosa. Mas com o passar do tempo, a presidência da Ucrânia mudou e os conflitos entre os dois países foram se intensificando no campo diplomático. 

 

18 OFF: Agora pula para fevereiro de 2022. Um dia antes de Putin autorizar os primeiros bombardeios, a Assembleia Geral das Nações Unidas se reuniu para discutir a situação dos dois países, que já era insustentável. 

 

19 OFF: Mas já era tarde demais. 

 

20 OFF: Em paralelo a isto, a Ucrânia do presidente  Volodymyr Zelensky já se preparava para o possível confronto e decretou emergência. 

 

21 OFF: Ao mesmo tempo, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um jogo duplo. Primeiro ele disse estar disposto a negociar uma solução diplomática para o conflito, o que na prática, não aconteceu. 

 

22 OFF: Horas depois, a invasão foi declarada e as tropas invadiram regiões separatistas da Ucrânia. 

 

23_OFF: Com o avanço da guerra, Anastasiia Syvash fazia de tudo para convencer a mãe a voar rumo a Salvador, na Bahia, onde mora com o marido há dois anos.

 

24 OFF: Inclusive, dias antes do conflito começar, Anastasiia estava na Ucrânia visitando a família. A volta estava marcada para o dia 30 de janeiro. Mas o marido pegou covid, e a viagem se alongou por 20 dias. O casal voltou três dias antes das invasões.

 

25 OFF: Com a guerra em curso, Anastasiia enfrentou dificuldades ao longo da viagem de Olha. A primeira, o medo pessoal da própria mãe:

 

26_SONORA ANASTASIIA - medo de viajar

Ela teve um medo de viajar porque ela não falava línguas e nunca viajou sozinha, mas acho que tudo foi bem porque o medo de morrer foi mais de medo de viajar.

 

27_OFF: Depois, tiveram dificuldades na comunicação com a mãe e a falta de voos foram dois dos principais problemas enfrentados. 

 

28_SONORA ANASTASIIA 2 sobre o caminho

Quando a Guerra começou todos os aeroportos no Ucrânia foram fechados e por isso ela precisava ir na cidade de Hyde. Ela precisava ir num estação de trem e ela foi a pé porque o ônibus ou metrô não funcionavam e ela não poderia pegar Uber ou táxi porque não funciona também. Ela foi até essa estação de trem,bfoi quase cinco horas. Sim, ela quebrou a mala, tem muitas histórias dessa viagem. Depois ela pegou o trem até Lviv. Aí ela ficou lá acho que quatro dias, quatro ou cinco dias. Aí pegou com nossos amigos, pegou o ônibus até Varsóvia e depois pegou um avião até Lisboa e depois para Salvador. 

 

29_OFF: Ao mesmo tempo que Olha tentava se deslocar pela Europa para chegar ao Brasil, os olhos do mundo estavam cada vez mais voltados para a situação na Ucrânia. 

 

30_OFF: Quando o conflito completou um mês, em março, a Assembleia Geral da ONU pediu pela segunda vez o fim imediato das hostilidades e de qualquer ataque contra pessoas e alvos civis. 

 

31_OFF: Na época, o Brasil votou a favor do texto. O país já estava recebendo muitos refugiados. 

 

32_OFF: Pra se ter uma ideia, em março de 2022, foram registradas 325 entradas de mulheres e mais de 1300 homens, isso de acordo com um levantamento do Observatório das Migrações Internacionais, o OBMigra, a partir dos dados da Polícia Federal. 

 

33_SOBE SOM BOMBA

 

34_OFF: A Ucrânia continuava resistindo à invasão russa. Em abril, Kiev, importante símbolo para os ucranianos e russos, foi libertada depois de uma rápida retirada das tropas para manter o controle nas regiões já ocupadas. 

 

35_OFF: Mas, ali perto da capital, a cidade de Bucha, foi palco de um genocídio. Corpos de civis eram encontrados em ruas e valas comuns. 

 

36_OFF: E de forma simultânea as áreas mais atingidas pelos ataques continuavam sendo o Leste Ucraniano e a região portuária ao Sul.

 

37_OFF: O objetivo russo era tomar pontos estratégicos da infraestrutura da Ucrânia, como por exemplo, a usina nuclear de energia em Zaporizhia a maior da Europa.

 

38_OFF: Em outro ponto do conflito, o Kremlin anunciou em 21 de abril que havia conquistado Mariupol, no leste ucraniano. A cidade era importante na tentativa de assegurar a união entre as forças da Crimeia, aquela península ucraniana anexada por Moscou em 2014, e as áreas separatistas do Donbass. Com isso, o objetivo era anexar estes territórios ucranianos à Rússia.

 

39_SOBE SOM JCBN 2 - DEIXAR BG

 

40_OFF: Três meses depois, em junho, a cidade de Severodonetsk era uma das mais atingidas. 

 

41_0FF:  Sabe a outra voz que você ouviu lá no início desse podcast? É de Nataliya Shevchenko. Ela estava na capital, Kiev, enquanto os bombardeios ainda aconteciam ao redor do país. 

 

42 SONORA NATALIYA 2 

Eu ficava lá 10 dias perto de Kiev, eu ouvi todos bombas e todos esses somas terríveis e depois eu mudei como meus cachorros pra lhe vivos cidade que é tá mais perto para Polônia. Eu morava lá até junho a vida continua, mas como novidades como sirenes como tudo isso.

 

43_0FF: Nataliya é russa, mas cresceu na Ucrânia. Formada em direito internacional, trabalhou em multinacionais e tinha planos de conhecer o mundo em 2022. Mas o projeto dela foi interrompido quando a guerra estourou.

 

44_OFF: Ainda no começo daquele ano, ela e os quatro cachorros se mudaram para a casa de amigos em Lviv, no oeste da Ucrânia. 

 

45_OFF: Em junho, Nataliya recebeu uma proposta para trabalhar no Brasil. Sabendo que a situação entre Rússia e Ucrânia ainda iria longe, decidiu aceitar o trabalho.  

 

46_OFF: Depois de arrumar novos lares para os cães e vender tudo por lá, recomeçou a vida em agosto do ano passado em São Paulo. 

 

47_OFF: Enquanto isso, do outro lado do mundo, na Ucrânia, o dia 24 de agosto marcava duas datas importantes: o dia da independência do país e seis meses de guerra. O dia foi marcado pelo discurso emocionado do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que enalteceu a união de seu povo e afirmou que os ucranianos iriam lutar até o fim. 

 

48_SONORA NATALIYA 3 I DON'T SUPPORT WAR

 

49_OFF: Muitas regiões da Ucrânia ficaram sem sistema de água, eletricidade ou de aquecimento  por causa dos ataques. 

 

50_OFF: Enquanto isso, familiares de gente que vivia o terror da guerra por lá acompanhavam de longe, aqui no Brasil, a falta de recursos e serviços. Estes desafios são enfrentados até hoje.

 

51_OFF: Alguns deles contaram que nas poucas ligações que conseguem fazer, ouvem relatos de incerteza, medo e tristeza:

 

52_SONORA Snizhana Maznova 1

Sim, porque você liga para família e você não sabe o que perguntar, né? Porque normalmente você liga para a família e fala oi, tudo bem? Como você vai perguntar Oi tudo bem, né? Se você manda mensagem é tipo tem luz ou água, não tem mais aquela não tem mais aquele "Oi, tudo bem?". Por isso tudo continua meio confuso. Porque você não sabe nem como conversar com pessoas nem me perguntar nem o quê.

 

53_OFF: Há 16 anos no Brasil, a russa-ucraniana Snizhana Maznova, que você acabou de ouvir, tem a família toda na Ucrânia. Ao saber dos conflitos, ela ficou apavorada. 

 

54_OFF: Algumas pessoas da família dela até mudaram para vilarejos próximos pra tentar fugir dos problemas impostos pela guerra, mas voltaram recentemente por causa dos pertences pessoais. 

 

55_SONORA Snizhana 2

Agora no ano novo eles voltaram também pra cidade porque também ficam com medo de deixar apartamentos, né? Porque lá não tem assim condomínios fechados como aqui no Brasil todos os prédios estão abertos.

Então, talvez fique perigoso , o prédio quase inteiro sai e também os vândalos, né? Pode acontecer alguém pode abrir o apartamento. Então eles voltaram no ano novo, eu conversava com eles e eles falaram que quando começou  a ouvir tiros e a minha tia falou que 'não vamos descer porque eu liguei para ele estava tipo bem assim chegando no  pra meia-noite, né? E eles falaram que a gente não vai descer mesmo que o Vão derrubar o prédio a gente não vai descer e pronto não vamos se esconder ou seja, já fica um pouco fica daquele jeito que tipo pode me matar, mas eu não vou embora da minha terra'

 

56_OFF: Longe da família e depois de um ano vendo notícias sobre o confronto, ela conta que já até saiu de grupos pq nao aguenta mais ter informações sobre a guerra: 

 

57_SONORA  Snizhana 3

Todo dia eu estou me juntando por pedaços para começar a minha vida. Eu já até deletei telegram do meu celular tudo porque eu não consegui mais receber fotos de corpos de mortos de tudo, porque simplesmente minha mente não estava conseguindo mais essa processar essa informação

 

58 OFF:  A guerra já matou pelo menos 8 mil civis e feriu mais de 13 mil pessoas ao longo de 12 meses. Os dados foram atualizados no relatório ‘Dados Anuais sobre Civis’ do Escritório de Direitos Humanos quatro dias antes do conflito completar um ano. 

 

59_OFF: Diante de tanta tragédia, alguns recorrem à fé

 

60_SOBE SOM MISSA 24s

 

61_OFF: Foi o caminho escolhido pela Dona Maria (Thiericuk), que mora no Brasil há 54 anos e tem uma prima na Ucrânia. Elas conversam por telefone uma vez por mês. 

 

62_SONORA DONA MARIA -  12s

Pegaram o neto dela e leva pra guerra. Pegaram lá ta na outra cidade…

 

63_OFF: Todos os cidadãos ucranianos do sexo masculino entre 18 a 60 anos foram proibidos de deixar o país enquanto durasse a Lei Marcial imposta pelo presidente Volodymyr Zelensky. Eles precisam ir à guerra. 

 

64_OFF: E a prima de dona Maria tem que esperar o neto voltar…

 

65_OFF: Ela tinha ligado para a prima há pouquíssimo tempo: 

 

66_SONORA DONA MARIA 2 

Ta do mesmo jeito. Muita Bomba. 

 

67_OFF: Eu conheci a Dona Maria na Paróquia Nossa Senhora da Glória, que fica na Vila Bela, Zona Leste de São Paulo. 

 

68_OFF: Logo que a Guerra começou, a igreja atuou no acolhimento das famílias ucranianas que chegavam na região. O padre de lá é Josafat Vozivoda. Ele esteve à frente da comunidade, que realizou doações e deu as boas vindas ao Brasil.

 

69_OFF: Dona Maria Thiericuk, que conheci na paróquia, participa todos os domingos do rito católico, que costuma receber cerca de 40 pessoas. 

 

70_OFF: O padre Josafat acredita que não se pode separar um povo da própria fé e que a igreja se tornou um ponto de encontro e união da comunidade ucraniana da região.

 

71_SONORA PADRE 1 

A gente não pode dissociar o povo ucraniano da sua religião porque é um povo religioso é um povo que por onde foi mesmo nos rincões mais afastados mais isolados, se você tem uma dá uma olhada ou Simões as comunidades ou os interiores mais isolados no Brasil no caso mais específico, Santa Catarina, Paraná, então o povo foi fazendo as igrejas como elo de União.

 

72_OFF: O ambiente da paróquia é acolhedor. Logo na entrada, todos eram recebidos com um sorriso da fiel que fazia a recepção.  

 

73_OFF: Parecia que a grande maioria se conhece e é unida.

 

74_OFF: Durante a celebração, as diferenças são um convite à escuta atenta: 

 

75_OFF: A missa é praticamente toda cantada e o padre reza de costas para os fiéis. A celebração é boa parte conduzida em ucraniano e como eu não entendo o idioma, perguntei ao Regente do Coral da Igreja, Danilo Zajac, do que se tratava. 

 

76_SONORA DANILO

O rito que a gente celebra geralmente no Brasil é o rito que a gente chama de rito romano, a gente tem procurado fazer o que a gente faz sempre né, que é continuar mantendo a tradição, né? Porque tem uma poetisa  que ela fala que a Ucrânia nunca vai morrer se a gente continuar preservando a cultura e as tradições, então é uma forma da gente ajudar, né? Porque a comunidade é pequena. Ela não tem condição por exemplo de estar em protestos todos os domingos embora a nova leva de imigração tenha feito protestos na Paulista todos os domingos é uma forma aí de ela enfim mostrar para o mundo o horror dessa guerra.

  

78_OFF: Foi lá na paróquia também que eu conversei com o Cônsul Ucraniano na capital paulista, Jorge Rybka. 

 

79_SONORA JORGE RYBKA 1

Paralelamente a comunidade vendo que está acontecendo ela se mobilizou então os consulados a Embaixada a representação Central dos ucranianos no Brasil que congrega todas as entidades civis e religiosas elas rapidamente elas se organizaram de modo a que a gente criasse um comitê de ajuda humanitária que foi o o humanitas brasil-ucrânia,

 

80_OFF: Além da fé, ucranianos, russos e descendentes buscam nas manifestações uma forma de protestar contra as invasões e informar sobre os horrores do confronto que ocorre no Leste Europeu. 

 

81_OFF: Em São Paulo, a primeira manifestação foi ainda no início do conflito, com mais ou menos 50 pessoas. 

 

82_OFF: Foi em uma dessas manifestações que eu falei com os brasileiros Juliana Savelieva e o Ricardo Ferraro.

 

83_SONORA JULIANA E RICARDO  1 

A comunidade estava mais forte, os próprios ucranianos no início, por exemplo, eles estavam muito em choque, né? Então a gente conseguiu ajudar bastante nesse sentido, eu não me lembro de ter um espaço onde assim as pessoas fizessem fisicamente se encontrar e conversar então no começo assim teve esse lado bom dele se encontrar e era todas as línguas sabe era Russo ucraniano inglês, Francês, portuguêse  todo mundo vinha e todo mundo conversava assim os cara bem legal de pessoas.

 

84_SONORA JULIANA E RICARDO 2 

Sabe o ponto de vista político eu acho, a guerra é uma realidade muito distante da gente, eu acho que essa foi assim a maior até pra gente que tem mais contato querendo ou não. É às vezes a gente tentar uma história das mesmas que tinham vindo direto de lá da nossa amiga. Você sabe é e às vezes parecia uma coisa assim tão absurda é tão gigante pra gente que até a primeira a primeira instinto assim é você pensar que nossa isso não pode ser verdade, mas é sabe é tem registro tá muito simples brasileiro em geral e a gente se incluir. 

 

85_OFF: As fotos, os cartazes e as pessoas na manifestação chegam para chamar a atenção. Foram os estímulos visuais que fizeram uma criança interromper a conversa que eu tinha com os brasileiros…

 

86_SONORA JULIANA E RICARDO 3 

 

87_OFF: A mãe dela é Tetiana Moloshna, ucraniana que mora há 11 anos em São Paulo e tem parentes que ainda estão no leste europeu. Ela conta que a comunicação ficou mais difícil depois que usinas de energia foram destruídas. 

 

88_OFF: Para ela, este ano de guerra  foi marcado por incertezas e medo.

 

89_SONORA Tetiana  

Porque a minha mala tem 83 anos ela quase não anda aí é muito difícil para imaginar que eu consigo trazer ela para cá. Claro que ela nem quer e ninguém imagina como faz porque dá bastante longe da Brasil. Então é quase apesar que eu mentos na escola hora e tal, vamos começar vamos tentar porque ninguém sabe o que vai acontecer no futuro, quando vai terminar como a vida da amostra é não termina não acaba não acaba aí por isso quando vai acabar. O que pode incluir nessa terminação da Guerra ninguém sabe. Então esse é o meu irmão. Ele é o menino então ele não consegue sair do país. Então fica assim.

 

90_SOBE SOM

 

91_OFF: As consequências da guerra não se limitam à Ucrânia: desde os minutos iniciais do conflito, o regime de Vladimir Putin impede a manifestação de cidadãos russos contra o conflito.  

 

92_OFF: Foi o que me contou a russa Anna Smirnova, que mora no Brasil desde o ano 2000. 

 

93_SONORA ANNA 1 51s

Lá dentro da Rússia, aprovação da Guerra está crescendo porque assim ah dentro da Rússia tem pensamento Imperial muito forte, né? Todos os países soviéticos, tem que falar russa respeitar a Rússia. Mas mesmo quem pensa assim tá ficando horrorizado com secando. Porque mesmo pessoa que pensar assim e não quer pegar arma e ir lá no Ucrânia riscando a sua vida, né? Então quando começou a mobilização dos civis, em setembro, por mais que alguém publica lá não tem como ser pesquisada abertamente porque lá se você tiver opinião se você quer falar a palavra guerra, né? Vocês acham sujeito as punições porque obviamente lá na Rússia, né? Não tem guerra nenhum, tipo uma operação especial militar, então a gente espera que a Rússia vai perdendo as forças que vai repetindo economicamente muita gente já foi embora da Rússia. Não vai chegar um momento que o regime não vai conseguir se sustentar.

 

94_OFF: Em setembro de 2022, quando a guerra completava sete meses, centenas de pessoas foram presas por autoridades na Rússia em protestos contra a nova convocação de reservistas para o confronto. 

 

95_OFF: O mestre em cultura russa pela Universidade de São Paulo, Fabrício Vitorino explicou que a situação tem influência do controle que o Governo tem sobre os meios de comunicação.   

 

96_SONORA FABRÍCIO VITORINO 1 

Putin adotou uma estratégia muito peculiar e muito Sagaz de controlar os meios de comunicação então desde então hoje foi ano após ano tomando controle de toda a mídia na Rússia. Então você imagina são 20 mais de 20 anos, 22 23 anos do domínio estatal.

 

Então os russos são bombardeados diariamente, em 24 horas por dia todos os dias do ano ou informações divulgados pelo governo que dão conta de que é uma guerra civilizatória eles que estão lutando no front são heróis da Pátria estão ajudando a liberdade da Ucrania e sempre foi russa na visão deles, né? E Purtin falou no discurso de invasão.

 

97_OFF: A influência é tão intensa que o governo russo conseguiu trocar o uso do termo ‘guerra’ por ‘operação militar especial’ para falar do conflito.

 

98_SONORA FABRÍCIO VITORINO 2 

Quando você usa essa palavra, quando você declara guerra a um outro país há um estado de exceção. Você é obrigado a a colocasse a economia colocar toda a sua vida social em um estado de exceção de tudo isso e Putin Não quer, ele quer que a vida siga normal. Uma operação militar especial não envolve não exército, ela permite que a vida siga normal no seu país, então a não declaração de guerra. É muito curioso, né? Como Putin joga com as palavras assim. 

 

99_SOBE SOM 

 

100_OFF: Um ano depois, o número de refugiados ucranianos já ultrapassa oito milhões, na Europa, de acordo com dados do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. 

 

103_OFF: Atualmente, a maior comunidade ucraniana no Brasil está no Paraná, em Prudentópolis. Nós tentamos conversar com pessoas que vieram da Ucrânia em busca de refúgio, mas algumas preferem deixar a história da guerra para trás.

 

104_OFF: Quem ficou, quer recomeçar e não fala muito sobre o assunto.  

 

105_SOBE SOM 

 

106_OFF: Além da distância, outro desafio entre os brasileiros e os ucranianos é o idioma. Começando pela escrita: os ucranianos têm como base  o alfabeto cirilico e os brasileiros o latim. São dois formatos completamente diferentes tanto no visual para leitura quanto na fala. 

 

107_OFF: Imagine como é difícil se adaptar bem em um país com um idioma totalmente diferente com todos esses detalhes. 

 

108_OFF: Foi pensando nisso que a professora Anna Smirnova começou a dar aulas de português para ucranianos. 

 

109_SONORA ANNA 2

Assim que começou a guerra, eu sou professora de português para estrangeiros, então assim que começar a guerra a gente abriu um curso online gratuito para ucranianos. Então chegou o momento que tinha cinco 70, 80 pessoas no curso que estavam aqui no Brasil e estavam aqui no Brasil inteiro fazendo o curso conosco. Tem vários brasileiros me ajudando para manter o público de conservação de conversação outros cursos de português, então já passou um ano e o curso continua. A gente parou um pouco para as festas agora e voltou e começou também acabou de começar um grupo de português para ucranianos do zero tá com 25 pessoas e quem tava estudando no passado e agora continuou também a gente tá com 40 pessoas agora.

 

110_OFF: Anna explica que o curso é todo adaptado para o cotidiano aqui no Brasil, tendo bastante foco na conversação. Um conceito que é chamado também de “português como língua de acolhimento”. 

 

111_OFF: Ela que ajuda a Nataliya, a Anastasiia e a Olha Syvash, que vc já ouviu aqui neste episódio. 

 

112_OFF: Anna não é a única que se dispõe a ensinar. Sabe a voz que você ouviu nas traduções lá no início da nossa conversa? 

 

113_SONORA VOLHA TRADUZ OLHA ILUSTRA

 

114_OFF: É a voz da belarussa Volha Franco, também professora de idiomas. Ela participou das manifestações em Salvador e foi lá que conheceu a família Syvash. 

 

115_OFF: Volha organiza formas de arrecadar dinheiro para enviar a Ucrânia: 

 

116_SONORA VOLHA ARRECADAÇÃO

Se caso alguém tenha interesse e outra questão também associa já tem um tempo que abriu ainda no passado. Pensamos que é bom ou promovendo esses eventos culturais arrecadar uma ajuda para a cidade natal delas de rack e a nossa Cecília está em contato direto com as voluntárias lá que já sabem para que o que é arrecadar e sempre quando tem um evento nos divulgamos a nossa vaquinha com bico e tudo e as pessoas podem doar. E essas doações vão direto para a cidade de Hyde (cidade Ucrânia).

 

117_SOBE SOM

 

118_OFF: As negociações da Ucrânia com aliados da Organização do Atlântico Norte e países europeus continuam, em busca de armas, munição e ajuda.  

 

119_OFF: E você deve estar se perguntando: como a Ucrânia chegou até aqui?

 

120_OFF: Um ano depois, no front da Guerra, a Ucrânia não tem a ajuda das tropas de outros países no conflito. Mas ela enfrenta a Rússia de outras maneiras. 

 

121_OFF: Diplomaticamente, a Ucrânia recebe o apoio de países aliados da Organização do Atlântico Norte, a Otan.

 

122_OFF: Além disso, países europeus boicotaram produtos vindos da Rússia, o que fez a economia russa balançar. De forma geral, a ordem entre os países é não se meter no conflito para evitar uma guerra de maiores proporções. 

 

123_OFF: Até porque, muitos precisam de um bem valioso que a Rússia tem em abundância na região: o gás natural que aquece as casas dos europeus durante o rigoroso inverno.

 

124OFF: Mas, mesmo assim, potências mundiais como os Estados Unidos e a Alemanha ajudam a Ucrânia com o fornecimento  de armas modernas, munição, tanques de guerra e verbas. 

 

125_OFF: Aqui no Brasil, apesar da pressão  da comunidade internacional, o presidente Lula já tinha determinado que não enviaria tropas e nem munições para Ucrânia e disse que vai trabalhar para uma solução que coloque fim ao conflito e pacifique o cenário global. Essa é uma posição tradicional da diplomacia brasileira na ONU, que também foi seguida durante o governo de Jair Bolsonaro lá no início, logo quando o conflito eclodiu. 

 

126_OFF: Para o professor Fabrício Vitorino, a posição do Brasil envolve as relações comerciais com a Rússia:

 

127_SONORA FABRÍCIO VITORINO 3

O Brasil depende profundamente de Fertilizante e Russo e de Belarrus. Então o Brasil não Condena, não Toma lado, não envia armas e mantém regular aí o seu negócio sabia comercial com ambos os países Rússia e Belarrus, porque a nossa economia, o nosso Agro depende profundamente desses países. Então querendo ou não é uma estratégia. Agora tem um ponto importante em que a gente pouco menciona: o Brasil tem um acordo de não exigência de visto com a federação russa e com a Ucrânia. Então ao passo que o Brasil ofereceu asilo para muitos usa cranianos durante o tempo de guerra o Brasil segue também como um povo aberto pra Russos 

 

128OFF: Na semana em que o conflito completa um ano, o cenário político voltou a ficar  movimentado: 

 

129OFF: O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma visita surpresa a Kiev, capital da Ucrânia, na mesma semana em que o conflito completou um ano. Ele foi lá para reafirmar o compromisso com a democracia, soberania e integridade territorial do país atacado. 

 

130OFF: Do outro lado, a resposta russa não demorou a chegar. 

 

131OFF: No dia seguinte à visita, o presidente russo, Vladimir Putin, suspendeu a participação no último tratado bilateral de controle de armas nucleares feito com os Estados Unidos. 

 

132OFF: E ele não parou por ai…

 

133OFF: Putin também disse que a guerra vai continuar, que a Rússia tem "todos os recursos" para seguir lutando e fez uma nova leva de ameaças, incluindo armas nucleares.

 

134_SOBE SOM 

 

135_OFF: A pergunta que ninguém pode responder com certeza é a mesma que todos se fazem quando olhamos as consequências dessa guerra: Quando ela irá acabar? 

 

136_OFF: Fabrício Vitorino explica que alguns prazos dados pelo presidente russo, Vladimir Putin, acabam no meio deste ano. Isso torna o período entre abril e maio importante para o encerramento do conflito. 

 

137_SONORA FABRÍCIO VITORINO 4

E a gente tem uma janela em março quando o tempo começa a mudar e quando o Putin ordenou aos seus comandantes para tomar o Donbass, tipo enviou para que esse controle aconteça e tem Claro por objetivo declarar a operação militar especial como encerrada, né? Para falar: 'Conquistamos o Donbass, conquistamos as regiões a leste, libertamos os russos, evitamos um genocídio, criminalizamos os nazistas da Ucrânia' - São as ornamentações de Putin - 'completamos a operação, agora vamos negociar'. Então sem dúvida os próximos meses são cruciais pra gente entender o que pode acontecer nessa triste e feliz guerra.

 

138_OFF: Para o Cônsul Jorge Rybka, a Ucrânia precisa resistir da forma que for preciso para sobreviver às investidas russas e continuar com a luta por liberdade:

 

139_SONORA JORGE FINAL - 50s

Vou parafrasear o que eu ouvi eh que é assim se a Rússia quiser terminar a guerra só depende dela e ela termina do mesmo modo que ela começou. Se a Ucrania resolver terminar a guerra, hoje, acaba a Ucrânia. 

Estamos sendo invadidos, estamos invadidos há um ano.

E não há perspectivas pelo menos do lado do ponto de vista da Rússia e que isso eles têm alguma vontade e que isso acabe porque nós só vemos o que eles aumentarem efetivos novamente aumentarem armamentos e tudo mais e o que o creme a pele sim para se defender ele não é só alcança. Ela está definindo hoje e também não é só os países vizinhos e também não é só a Europa o mundo. Ela tá defendendo uma coisa muito maior que é a democracia é o direito à liberdade.

 

140_OFF: Até agora o que se pode afirmar mesmo é que essa guerra já entrou para os livros de história e, o fim dela, como você percebeu ao longo desse episódio, é incerto. 

 

141_SOBE SOM

 

142_OFF: Eu sou Karina Almeida e esse CBN Mais contou com a colaboração de Marcella Lourenzetto e Rodrigo Borges. A edição e a supervisão foram de Juliana Prado e Lucas Soares.

 

143_OFF: A sonorização, do Cláudio Antônio, o Claudinho. 

 

144_OFF: Obrigada e até a próxima.

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